Todos nós reconhecemos a competitividade nas mulheres. Nas muitas pesquisas que vou fazendo encontrei uma teoria sobre os fundamentos do comportamento feminino moderno. Por norma, são mais competitivas entre elas que os homens.
Sabemos que a nossa genética foi moldada há muito tempo, bem antes das pirâmides, dos tiranos e do iPhone. Estima-se que a humanidade tenha à volta de 200 mil anos de existência (isto levando em conta apenas a espécie Homo sapiens; os humanóides têm aproximadamente 6 milhões de anos). As primeiras grandes civilizações que temos registos. datam de aproximadamente 5 mil anos atrás. As conhecidas civilizações do crescente fértil da Mesopotâmia. Assim sendo, há uma certa desfasagem entre como fomos calibrados geneticamente e como fomos calibrados socialmente, ou seja, pela civilização. Os nossos genes foram ajustados para a vida tribal de há muitos anos atrás, quando ainda éramos seminómadas e não enganávamos a seleção natural tão frequentemente com remédios e aparelhos ortodônticos.
No gérmen da civilização, o homem era, provavelmente, um caçador na sua essência. Isto porque a caça era o meio mais fácil e óbvio de subsistência. Imaginando um caçador da época, podemos concluir que provavelmente era extremamente imprevisível, nómada e desprendido (ou seja não se fixava muito). Se ele não pudesse ter mobilidade, a sua existência seria seriamente comprometida, então devia ser indiferente às mulheres que fecundava. Era, então, dever da mulher segui-lo para receber alguma proteção, pois ele não podia perder tempo com conceitos tão abstratos quanto “família” e “fidelidade”. As mulheres que não seguiam os caçadores dificilmente sobreviviam na selva, principalmente se estivessem grávidas, ou seja, mais indefesas.
Então, a mulher (e sua prole), para sobreviver, devia jogar o jogo de “siga o caçador”. Passando para as suas descendentes do sexo feminino a mesma característica que tinha assegurado a sua nascença, ou seja, a necessidade de seguir um caçador.
O gene da cooperação feminina foi-se lentamente extinguindo
Aqui há mais detalhes interessantes. Naturalmente, a mulher devia ser competitiva em relação às outras mulheres que o homem fecundava, porque ele provavelmente não iria conseguir manter todas. Quando ela estava grávida, necessitava de mais alimentos. O que se tornava um problema se pensarmos em várias mulheres grávidas ao mesmo tempo. Então, o gene da cooperação feminina foi-se lentamente extinguindo: as que eram cooperativas demais eram subjugadas pelas que não tinham assim tantos escrúpulos, que mantinham a sua prole viva e passavam os seus genes egoístas adiante.
Os homens, entretanto, experimentavam exatamente o contrário. Na selva, a maior vantagem do homem em relação às feras era a sua capacidade cognitiva, e a comunicação extremamente desenvolvida, que com certeza ajudava na caça. Como exercício mental, imaginemos um grupo a caçar, e depois um homem isolado. Sabemos que o homem isolado pode ser bem-sucedido na sua empreitada, mas é muito provável que esse mesmo homem isolado, unido a um grupo, teria mais oportunidade de sucesso.
Depois de muito tempo, surge na história mais um personagem, fruto da racionalidade humana: o agricultor. Esse era um ser humano bem diferente do caçador nalguns aspetos; ele não era nómada, e a sua conduta era previsível. Ele oferecia mais segurança à mulher do que ao seu par caçador. Agora, as mulheres podiam exercer a mesma atividade que os homens, pois a agricultura não exige tanto das habilidades que os homens possuem naturalmente em níveis mais elevados que os das mulheres (os desportos são um bom exemplo prático e atual dessa diferença). Elas nem se precisavam preocupar em segui-lo, pois sabiam exatamente onde encontrar o seu “esposo” no dia seguinte. Pronto: as mulheres agora experimentavam da “relação estável” que a sua racionalidade tanto procurava.
No entanto, a genética já tinha sido moldada muito antes do desenvolvimento da agricultura. Mesmo que, usando a racionalidade, as mulheres chegaram à conclusão de que um agricultor seria o melhor pra elas (e é isso que as suas mães e símiles dirão).
Pela sua genética, haverá sempre a necessidade da proteção de um caçador, indiferente e imprevisível.
Bem hajam,
Miguel Ferreira